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China reduz a demanda por trigo e milho do exterior e pressiona o mercado global

O apetite da China por trigo e milho do exterior tem diminuído rapidamente, o que tende a causar pressão sobre os mercados mundiais de grãos que se acostumaram com a demanda robusta do maior importador agrícola do mundo.


Os compradores na China não têm feito grandes compras há alguns meses, de acordo com vários traders ouvidos pela Bloomberg News. Com os preços domésticos tão baixos, é provável que a tendência continue no terceiro trimestre, disseram eles, que não quiseram ser identificados para discutir questões comerciais delicadas.


Entidades e órgãos como o International Grains Council (Conselho Internacional de Grãos) e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ainda estimam grandes compras chinesas neste ano e no próximo. Se as importações caírem, um pilar fundamental da demanda que afeta os agricultores de todo o mundo ficará comprometido.


A menor demanda da China em relação às importações decorre de uma economia lenta e de safras abundantes consecutivas. O governo foi forçado a estocar trigo e milho para apoiar os agricultores locais, enquanto os embarques de milho para o exterior foram restringidos ou até mesmo cancelados para sustentar o mercado interno.


Isso tende a preocupar os fornecedores estrangeiros da China, principalmente depois que a Turquia, o quinto maior comprador de trigo do mundo, suspendeu na semana passada suas importações do grão por quatro meses para proteger os produtores locais. O consumo fraco da China, o segundo maior importador, por motivos semelhantes, só eleva o nervosismo do mercado.


“A economia está muito ruim, e a demanda geral de toda a sociedade está caindo”, disse Ma Wenfeng, analista sênior da BOABC, uma consultoria em Pequim. “O governo quer elevar os preços dos grãos e aumentar a renda de agricultores, para elevar a demanda nas áreas rurais. Em vez de comprar grãos do exterior, é melhor comprar no mercado interno.”


Há muito tempo a China é um grande comprador de soja, principalmente para alimentar seu vasto rebanho de suínos, e está ativamente reservando mais cargas. No entanto, o crescimento explosivo das compras de trigo e milho, que também são usados na alimentação de animais, só começou com as promessas diplomáticas feitas aos EUA durante a guerra comercial com o governo Trump.


As importações de trigo e milho de janeiro a abril estavam à frente do ritmo do ano passado. Isso torna a queda repentina na atividade ainda mais surpreendente e pode deixar os mercados internacionais vulneráveis a quedas se a China estiver de fato ajustando sua estratégia de compras no exterior.


Na última semana completa de maio, os EUA tinham apenas 86.300 toneladas de milho encomendadas para enviar à China no atual ano comercial, que termina em agosto, drasticamente abaixo das 631.600 toneladas do ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura. Para a próxima safra, não há vendas de milho pendentes — o que não acontece há cinco anos — e apenas 62.500 toneladas de trigo.


Embora a situação possa mudar rapidamente, principalmente se o mau tempo afetar as colheitas, é improvável que o excesso de grãos da China diminua drasticamente enquanto o consumo continuar tão fraco. Além disso, há previsão de mais um ano de grande produção de trigo e milho no país.


As melhores condições de colheita provavelmente ajudarão a reduzir o déficit de trigo da China de quase 17 milhões de toneladas neste ano comercial para menos de 7,5 milhões de toneladas em 2024-25, resultando na redução da demanda de importação, de acordo com Charles Hart, analista sênior de commodities da BMI, uma unidade da Fitch Solutions. As importações de milho também serão moderadas em 2024-25 com o aumento da produção, disse ele.


Do lado da demanda, o rebanho de suínos da China está diminuindo e o consumo de carne continua baixo. A Mysteel Global espera que as necessidades de ração animal para a nova safra de trigo diminuam pela metade em relação ao ano anterior, de acordo com um relatório da consultoria chinesa na semana passada. As margens dos moinhos que produzem farinha para bolos e pães também estão sofrendo, pois as pessoas estão cortando gastos, disse a Mysteel.


Isso significa menos importações. Com relação ao milho, o Ministério da Agricultura da China previu que as cargas no novo ano comercial cairão em um terço, para 13 milhões de toneladas, ante 19,5 milhões de toneladas estimadas para este ano.


Mas há pressão para que os embarques caiam ainda mais. A China administra suas importações de acordo com um sistema de cotas que, neste ano, permitiria pouco mais de 7 milhões de toneladas de milho e quase 10 milhões de toneladas de trigo com a tarifa mais baixa de 1%. Depois disso, as tarifas sobem para 65%.


Embora os compradores estejam ansiosos para usar suas cotas, a vantagem econômica de importar mais do que isso faz muito menos sentido, disse Ma, do BOABC.


"Afinal, não precisamos de importações tão grandes, dadas as colheitas abundantes e, o que é mais importante, as quedas significativas no consumo", disse ele.


Fonte: Bloomberg Línea


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